Textos Críticos
A PESQUISA DE FORMA E SUAS ORDENAÇÕES VISUAIS
Prof. Dr. Marcos Rizolli (*)
Vermelhos ocrados, róseos sutis, verdes terrosos – quase azuis acinzentados, beges em variadas apresentações, marrons...em altos e baixos tons. Um ánimo cromático.
Placas. Planos bidimensionais: superfícies formais – justaposições...relevos em altas e baixas volumetrias – sobreposições. Recortes, fragmentos. A potencia da forma.
Paisagem, em algumas situações.figuras em constantes circunstâncias. Montagem: sempre.
Organiza-se, assim, a arte cerâmica de Betty Alvarez.
A peculiar expressão em argila, proposta pela artista, nos arremessa a um universo visual surpreendente. que trata o metiê da cerâmica em sua instância mais genuína ou experimental: pesquisa, mesmo!
Exploração de forma, especulação de cor, curiosidades da matéria...
Exercícios de linguagem, qualitativamente definidos.O processo de estruturação expressiva dá-se diante de franca experimentação – em que a manipulação material da plasticidade – ela mesma – da argila, orienta os modos sígnicos – aqueles formais e, portanto, inteligíveis.
Na presença da obra de arte, estão dispostos à nossa percepção os acessos para um repertório artístico que continuamente, ainda que orientado por um restrito eixo de seleção/combinação de elementos visuais, se reinventa!
O âmbito compositivo nasce de dentro para fora. Primeiro, na sugestão de configurações – em que átomos formais (sejam, eles, dilacerações e fragmentos materiais ou recortes instrumentais, dados por intervenções manuais ou carimbagem) reconhecem elaboradas aglutinações.
Por fim, a consciência formal estende-se ao campo visual. Deste jeito: o espaço (ele mesmo: o quadro) é valorizado com texturizações superficiais ou encaixamentos ordenadores.
Betty Alvarez expõe sua arte – sua razão de artista. Assim, age por criação e método!
*) Professor Universitário; Pesquisador em Cultura Visual, Crítico de Arte e Curador Independente.
EXPOSIÇÃO "PARQUE LEZAMA"
António Carlos Abdalla (*)
Com uma ativa e longa carreira de educadora, Betty Alvarez apresenta, pela primeira vez, exposição individual onde mostra uma serie de "obras experimentais", não prescindindo, felizmente, de sua formação académica e cultural para dar maior força e solidez ao seu trabalho.
A exposição foi montada para possibilitar a visão das obras em compartimentos quase segmentados, que contemplam técnicas e conceitos Bastantes distintos. No primeiro segmento, uma serie de cerâmicas ousadas em suas conceituações herméticas convive em harmonia com uma pequena floresta lúdica, de árvores quase surrealistas e algumas "quasebrincadeiras", construídas ironicamente com peças de montar e números desordenadamente entrelaçados.
Em seguida, há quatro pequenas instalações, um tanto quanto cruéis quando decodificadas e que, construídas com materiais simples e até óbvios, mostram o talento da artista em ilustrar ideias de forma criativa.
A técnica de pintura sobre vidro, numa espécie de monotipia, cria um jardim, onde a natureza oculta é revelada e ampliada.
Labirintos impressos nas chapas de fórmica são um desafio a ser percorrido e desvendado e aqui, também, a presença de grandes poetas serve para enriquecer o mistério do encontro.
Mostrando uma multiplicidade de técnicas, sua seriedade de criação dá bem conta das infinitas possibilidades e recursos da arte atual quando bem fundamentada, condição para que bons artistas permaneçam longe dos desvios e equívocos tão corriqueiros nos dias de hoje.
(*) Curador